"Cada etapa [da vida da criança] tem seus papéis e princípios. É preciso que a gente se adeque e respeite". Quem faz o alerta é Jaqueline Pasuch, professora doutora em Educação e coordenadora nacional do Movimento Interfórum da Educação Infantil do Brasil (MIEIB). A fala faz referência aos processos de transição e descobertas pelos quais passam as crianças ao longo de suas vidas sejam, por exemplo, no ambiente escolar, familiar, social, entre outros. As chamadas transições, especialmente aquelas que incidem sobre a educação infantil (quando a criança conclui o ensino infantil e começa uma nova etapa, no ensino fundamental) nortearam as reflexões e discussões entre gestores da área, membros de conselhos estadual e municipal de educação, fóruns, professores de Sinop e outros municípios da região, ao longo de dois dias. Durante o "Encontro de Educação: a Educação Infantil e suas transições", finalizado nesta sexta-feira (31), em Sinop, Pasuch lembrou o papel de cada educador em compreender a transição como um ‘rito natural’ na vida das crianças, além do desafio em se formular políticas adequadas a cada uma das fases do ensino. "Quando a criança ingressa na instituição escolar, no caso da educação infantil, se é um bebê vai para a creche. Se é uma criança de 4 anos vai para a pré-escola, que compõem a primeira etapa da educação básica, e isto é a educação infantil", afirma ainda coordenadora nacional. Um dos desafios, segundo Pasuch, é assegurar que a formação da criança no ambiente escolar ocorra gradativamente, sem a quebra de etapas, de forma a não prejudicar o aprendizado e o interesse, valorizando sempre a experiência individual. "Quando a criança entra no primeiro ano do primeiro ciclo do ensino fundamental ela apresenta uma bagagem adquirida na educação Infantil. Mesmo não tendo o objetivo específico de alfabetização, na educação infantil a criança vivenciou um mundo específico em letras, números e que os fez aprender naturalmente. Quando esta criança passa ao ensino fundamental estes professores precisam fazer uma leitura de qual bagagem estas crianças trazem em suas mochilas", pontua Jaqueline. Dia a dia O tema transição está presente no dia a dia da professora Simone Casado. Há quase sete anos atuando na Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) Ana Cristina de Sena, no bairro Novo Estado, em Sinop, Simone trabalha com crianças a partir dos 05 anos e que chegam ao ensino fundamental após cumprirem o ciclo da educação infantil. Mesmo com um mundo de descobertas pela frente, conservar dinâmicas e as vivências da educação infantil assegura maior confiança aos pequenos, avalia. "As crianças antes estavam acostumadas a estarem no pré e agora, com cinco anos, vão para o primeiro ano do ensino fundamental. O que temos que trabalhar nos meses iniciais [da adaptação] é o lúdico, atividades que desenvolvam a coordenação motora, psíquica e cognitiva para que esta criança esteja preparada para receber as informações que o agora ensino fundamental traz", lembra Simone. Raciocínio compartilhado pela coordenadora pedagógica Neusa Becker Maculan, da Escola Municipal Santa Isabel, de Nova Guarita. "Alguns profissionais têm compreensão desta transição. Porém, também ouvimos muitas falas dos professores alfabetizadores que não entendem o que é que tem que ser feito, quais as metas você precisa trabalhar com os alunos para não queimar etapas, mas respeitar sempre os alunos. O desafio é saber o que fazer", questiona. Neusa viajou até Sinop para participar do encontro promovido pela articulação conjunta entre o Movimento Interfóruns da Educação Infantil do Brasil (MIEIB), a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), regional Norte, o Fórum Mato-grossense de Educação Infantil e a Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura. Para a responsável pela área de formação da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura de Sinop, Jaqueline Diel, o encontro com profissionais da área permite reflexões fundamentais ao exercício da profissão. "Muitas vezes, nós professores, queremos que as crianças tenham resultados imediatos, mas elas são diferentes e cada uma tem seu tempo. O que orientamos nossos educadores é que primeiramente conheçam o seu público, conhecer a criança para planejar o que ela precisa. Em um evento como este o professor é convidado a fazer sua reflexão, saber se está atendendo às demandas das crianças. Momento de planejar", lembra. Resultados efetivos quanto a uma transição sadia e sem traumas, lembra Jaqueline Pasuch, passam também pela capacitação dos gestores, profissionais que atuam em sala, a definição de políticas públicas e a valorização do profissional do magistério. "A contratação de professor não pode ser sem formação em pedagogia. E isso a gente não pode retroceder", alerta.
Autor: Leandro J. Nascimento